"A magnitude do contexto esta para mim, assim como o sangue corre em minhas veias, ou seja, o Kung fu tradicional e a filosofia da familia Hung Gar rege a minha vida, assim como o sol se põe todos os dias e se expande a cada ciclo." Sifu Renata
Hoje dia 08 de março, comemora-se no mundo o dia internacional das mulheres. Então, convido-os a conhecerem a história da Sifu Renata. Destaquei a frase acima para mostrar que aprenderemos muito com o relato de experiência dela. Tenho certeza que ao ler este relato, você absoreverá muito da sabedoria oriental. Confiram:
Comecei a treinar kung fu com 6 anos de idade, na Zona Leste de São Paulo. Com 14 anos me formei faixa preta e me tornei discípula do Mestre Li Hon Ki. Penso que as artes marciais de um modo geral, ainda mais o kung fu Hung Gar, oferece para a criança tudo o que ela precisa no início da vida: além da parte física, como coordenação motora, equilíbrio, força, destreza, oferece também força de vontade, coragem, senso de liderança, entre outros tantos atributos que farão do indivíduo, um ser humano capaz de enfrentar as adversidades do dia a dia.
O termo kung fu significa literalmente “trabalho árduo” ou seja, se você trabalha arduamente em qualquer atividade estará praticando kung fu, como por exemplo: se um padeiro faz pão ha muitos anos da mesma forma, os movimentos são repetidos com perfeição desde a hora de fazer a massa até a hora de enrolar os pães e colocar no forno, então, esse padeiro pratica kung fu, pois o tempo de habilidade dele classifica o trabalho árduo como repetição para perfeição.
A repetição leva a perfeição, ou seja, a pratica sistemática leva a perfeição dos movimentos na arte marcial, por isso eu praticava meu kung fu de oito a dez horas por dia. Naquela época eu tinha tempo para isso, fora o kung fu a minha única atividade extra era a escola. Sempre fui uma boa aluna, para não ter motivos para que meus pais não me deixassem treinar.
O que desencadeou essa paixão desenfreada pela arte marcial eu não sei dizer, mas o que me levou a seguir o caminho do aperfeiçoamento pessoal, sem dúvida foi o budismo. Meus pais já eram budistas muito antes de meu nascimento, por isso fui criada com preceitos orientais dentro de casa, mesmo sem ter descendência direta. Sou Fukushi (pessoa nascida dentro do budismo).
Eu praticava Kung Fu, não porque queria ser a melhor do mundo nas competições, mas simplesmente porque me dava muito prazer. Aos quatorze anos quando consegui minha faixa preta e fiz a promessa de que passaria para frente tudo o que eu tinha aprendido, porque uma coisa tão maravilhosa inventada pelo homem oriental, não podia ficar somente comigo. Com essa mesma idade, eu sabia kung fu, mas não entendia kung fu, pois eu não era discípula de ninguém. Nessa mesma época consegui que Mestre Li Hon Ki, natural de Hong Kong, me aceitasse como discípula, sigo-o até hoje. como discípula e não meramente aluna.
Discípulos são aquelas pessoas que seguem seus ensinamentos, sua filosofia, concordam, discordam de você, mas não te abandonam, simplesmente porque compreendem que o ser humano é Yin Yang, errando e acertando em diversos momentos, mas tirando lições de cada experiência, positiva ou negativa. Aluno é aquela pessoa que aprende com você, como aprenderia com qualquer pessoa, não há um vínculo de fidelidade. Dentro de um discípulo esta embutido um aluno, que aprende com outros, mas trás a informação para dividir com seu mestre . Dentro de um aluno não esta embutido um discípulo.
A partir daí comecei a entender a importância de ter alguém para nos direcionar e foi nesse período que decidi passar para frente minhas técnicas, mas tentando fazer com que as pessoas procurassem o aperfeiçoamento pessoal e não apenas a arte marcial como atividade física. Aos dezesseis anos fui para Londrina, para iniciar a faculdade, aluguei uma sala, com a ajuda de meu irmão, para assinar a documentação, para que eu pudesse ensinar meu kung fu.
Minha primeira preocupação foi a de criar realmente uma família kung fu, de pessoas que levassem a técnica a sério, levassem a filosofia a sério como eu levo em minha vida. Muitas pessoas passaram por minha escola. Consegui formar uma família de discípulos que estão comigo desde então, fiéis e passando adiante a filosofia marcial.
Minha primeira experiência na China (Hong Kong) foi deveras gratificante, aprendi e compreendi muitas coisas, com apenas 18 anos pude entender o sentido da expressão arte marcial, observando os Mestres de Hung Gar, o mais novo com quarenta anos de treino árduo, pude desenvolver o que eu já
havia aprendido com meu Mestre, a experiência na presença de Lam Cho (o mais velho da família Hung Gar no mundo) foi indescritível.
Tive a oportunidade de realizar demonstrações do meu Kung Fu para representantes de muitos países, e principalmente para Lam Cho, nas poucas horas que convivi com esse mestre, em minha vida, pude perceber porque o chamam de mestre.
Sete anos depois voltei a China para um novo período de treinamento, muito mais gratificante, pois pude comprovar muitas coisas das quais eu falo para meus discípulos, mais do que isso, levei um deles comigo. Nessa segunda viagem em busca de aprendizado e aperfeiçoamento pessoal, pude refletir sobre novas lições e ensinamentos. Conheci outros mestres de kung fu, que não eram meus mestres diretos, mas, em poucas horas de conversa admirei-os como se fossem meus próprios mestres, um deles: Duncan Lee, mestre do estilo Wing Chun. Nas horas que tive de convivência com esse personagem de minha vida, pude aprender o sentido da palavra “gentileza”, aprendi com esse grandioso homem que dinheiro é necessário, mas as relações humanas são muito mais importantes, por isso “ ganhe dinheiro, mas não deixe o dinheiro ganhar você”.
Sifu Renata Balestrini, seu Sifu Li Hon Ki e o Grão Mestre de Wing Chun, Duncan. |
Aprendi que pessoas vem e vão de nossas vidas e podemos aprender algo com cada uma delas, sejam mestres consagrados de kung fu ou simples padeiros, quando agimos em busca de aperfeiçoamento pessoal, tiramos lições e aprendizados de qualquer situação.
Atualmente leciono minhas técnicas de Hung Gar na Associação Punhos Unidos de Kung Fu, onde possuímos quatro escolas ( Londrina, São Paulo, Fortaleza e a unidade Japão), somos ligados diretamente ao mestre Li Hon Ki e ao Mestre Lam Chun Sing, filho mais novo de Lam Cho (Hong Kong), e temos mais de 500 praticantes da arte.
Muitas pessoas já me indagaram:
Como você com apenas 16 anos conseguiu tantos alunos?
Minha resposta:
Simplesmente fui sincera com todos eles desde o início, nunca me fiz de mestre, sem realmente ser, nunca inventei técnicas, nem histórias mentirosas sobre o estilo ou qualquer outra coisa. Busquei as técnicas e o entendimento delas no “olho do dragão”. Fiz uma “fama” a partir de combates que fiz, e conquistei discípulos e não meramente alunos, os mais velhos me seguem á 18 anos. Enfim a dependência é mútua, dependo dos meus “filhos” tanto quanto eles dependem de mim.
Kung fu é isto!
Kung Fu é feito de pessoas, de relações de confiança entre mestre e discípulo, ambos sempre em busca do aperfeiçoamento e da evolução.
A minha luta é pela preservação do estilo Hung Gar de kung fu na forma tradicional, na medida do possível, para a conservação da beleza inicial do kung fu e sua funcionalidade.
O Kung Fu, mais que uma defesa pessoal ou um esporte, é um desafio pessoal onde aprendemos a lidar com nossos medos e receios através da máxima concentração, utilizando na vida tais preceitos conquistados através da arte marcial, e passando de geração para geração, sempre a procura de um mundo melhor, onde o homem vira cúmplice da natureza e a respeita. Acredito que o kung fu nos dá uma proximidade com a natureza inicial de equilíbrio, nos tornando assim, pessoas melhores.
Conheça mais sobre o trabalho da Sifu Renata acessando seu site e blog.
Bom, espero que todos tenham gostado do relato da Sifu Renata. Fica ai um exemplo para que outras mulheres trilham no caminho das artes marciais.
E deixou um convite, quer esta aqui no blog? Então, mande-nos a sua história!
Abraço a todos e até a próxima.
Paz e luz a todos!!!
Destaque para Gordon Li entre a Sifu Renata e Mestre Li Hon Ki |
Bom, espero que todos tenham gostado do relato da Sifu Renata. Fica ai um exemplo para que outras mulheres trilham no caminho das artes marciais.
E deixou um convite, quer esta aqui no blog? Então, mande-nos a sua história!
Abraço a todos e até a próxima.
Paz e luz a todos!!!
2 comentários:
Exemplo maravilhoso de vida e inspiração para nos mulheres!
Grande guerreira mantendo viva a tradicao do verdadeiro kung fu hung gar parabens sifu
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